Um estudo desenvolvido pelo programa de extensão “Laboratório Casa Sustentável” da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) relacionou ambiente urbano e arquitetônico das cidades com a propagação do coronavírus.
A partir do estudo foi elaborado o relatório “Ambiente Urbano e Habitação – condição de salubridade à luz da sustentabilidade em tempos de pandemia”. No documento, consta que espaços com densidade populacional excessiva são mais propensos à disseminação do vírus.
A iniciativa foi coordenada pela professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Letícia Zambrano, e no relatório mostra que o fator se manifesta tanto em ambientes urbanos estruturados, quanto em áreas informais da cidade.
Muitas das questões envolvidas na pandemia, de uma certa maneira, estavam demonstrando o limite da insustentabilidade em que chegamos nas cidades e que nos levam a uma maior exposição ao vírus”, destacou a professora.
O relatório traz um alerta para o risco de uma legislação vigente, que permite altos coeficientes de ocupação em terrenos. O estudo aponta a situação acarreta uma densidade excessiva para um ambiente urbano que tende a ser mais confinado, devido às ruas estreitas.
Zambrano destacou que, embora o prefeito tenha assumido com firmeza o enfrentamento da pandemia na cidade, isso não significa que Juiz de Fora não tenha os mesmos problemas encontrados em outros municípios brasileiros.
Entre as situações destacadas estão a concentração excessiva de pessoas no transporte público e a insuficiência de atendimentos junto às áreas informais.
A professora destacou que os principais problemas do município são a extensão das áreas em que prevalece a informalidade na ocupação urbana, tanto em áreas onde se localizam assentamentos habitacionais informais, como em bairros populares.
A pesquisadora também analisou as questões referentes à situação de habitação que abrange boa parte da população.
“Percebemos que ao olharmos para uma unidade residencial, as pessoas também sofrem, muitas vezes, de adensamento nas áreas informais. A própria unidade, pela presença da coabitação de mais de uma família vivendo em um mesma habitação, mais de três pessoas por cômodo, ou a própria estrutura do espaço habitacional, em determinadas situações, precária, também se transforma em um fator de agravamento”, destacou.
Ela afirmou ainda que a presença de lixo nas ruas e encostas, bem como a dificuldade de acesso para coleta dos resíduos em determinados locais, também são questões que agravam os níveis de contaminação nas áreas informais.
“Embora os dados oficiais apontem para o Centro e São Mateus como os bairros que apresentam os maiores índices de casos, estes são seguidos por Benfica e Nova Era – bairros populares – e em terceiro lugar São Pedro, Grama, São Geraldo, Monte Castelo entre outros, que são intensamente ocupados de maneira informal”, analisou.
Letícia Zambrano avaliou ainda que a insuficiência das políticas públicas sociais direcionadas à esta parcela da população dificulta o enfrentamento do desafio de combater a expansão da pandemia na cidade.
“Está claro que os problemas mais graves têm se dado no contexto da população de baixa renda por serem obrigados a sair pra trabalhar e terem que encarar o transporte coletivo lotado, aumentando a exposição e o risco de contágio pelo coronavírus”, completou.
O relatório “Ambiente Urbano e Habitação – condição de salubridade à luz da sustentabilidade em tempos de pandemia” está disponível na internet.
Por G1 Zona da Mata